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Foto do escritorMarcos Costa

Porque eu mudei de carreira?

Ou: de professor à cientista de dados



Como eu disse no primeiro post desse blog, eu não comecei minha vida profissional na área da programação. Atuei como professor de física em ensino médio regular por 5 anos antes de decidir abandonar o barca e dar uma guinada na minha carreira. Mas qual foi minha motivação, e como ocorreu essa mudança?


Toda carreira tem seus altos e baixos. Não existe caminho perfeito nem caminho totalmente perdido. E isso vale pra carreira de professor. Sempre gostei muito de estudar, conhecer novos assuntos, aprofundar o conhecimento e ir, aos poucos, retirando os véus da minha própria ignorância sobre um determinado assunto. E essa paixão não demorou a se tornar uma paixão por ensinar. Desde cedo sempre tive prazer em ajudar outras pessoas a conhecer melhor determinado assunto, dominar algum tópico ou elucidar alguma questão. Acredito muito que esse caminho do aprendizado é dual: se aprende melhor quando se ensina, e o contrário também é válido. Por conta disso, o caminho como professor me pareceu natural e intuitivo: passar a maior parte da carreira estudando constantemente e ensinando todo dia um grupo de pessoas, não só na ciência da física propriamente dita como também em outros assuntos. Afinal de contas, o professor é, antes de mais nada, um multiprofissional: psicólogo, sociólogo, conselheiro amoroso, pedagogo, diplomata, advogado... Cabe ao professor fazer milhares de coisas para além de ensinar os alunos os modelos e teorias da sua disciplina.


Mas com o tempo veio o desgaste. A falta de suporte por parte do Estado, as condições precárias de ensino, o desinteresse generalizado, a falta de resultados do próprio trabalho e algumas situações específicas vividas dentro de sala acabam por minar o interesse profissional de muitos. E eu não escapei disso. O desgaste veio e durante um tempo ele conviveu em paralelo com os prazeres da profissão, lutando internamente para ver quem ganharia espaço. Nesse meio tempo, meio por hobby, eu estava estudando programação e acompanhando uma série de canais do YouTube, podcasts e divulgadores científicos que falavam sobre tecnologia (e outros assuntos também). Meu interesse foi aumentando e a paixão por codar foi vindo em levas cada vez maiores. E mais do que isso, vendo a situação do mercado de trabalho para profissionais de tecnologia, minha curiosidade inicial se converteu em um objetivo: migrar de vez de carreira.


Vários fatores se acumularam aqui. É inegável que os fatores "mercado de trabalho" e "salário" falaram (bem) alto. Mas mais do que isso, a certeza que na carreira de tecnologia eu teria a oportunidade de estudar constantemente, evoluir sempre e nunca mais parar de crescer foi determinante. Essa certeza se deu ao ver a quantidade massiva de tecnologias disponíveis e a evolução dessas ao longo do tempo. Ainda que eu dedique todo o meu tempo livre por anos a estudar o assunto, eu não esgotarei tudo que há para se aprender. E isso pensando que nada de novo será lançado. Ou seja, meu gosto por aprender e ensinar estaria mais do que satisfeito. Outro ponto importante foi notar a cultura de valorização e liberdade que boa parte das empresas do ramo adotam. Não é raro de se ver nessas organizações políticas e práticas de valorização do colaborador enquanto pessoa, não enquanto "mais uma peça da engrenagem". Por tudo isso (e mais algumas influências pessoais) foi difícil falar não para essa possibilidade.


Por fim, a influência que eu trago da física contribuiu e muito para esse caminho. Mesmo sendo áreas distintas, é inegável física e computação são áreas afins. A forma de pensar do físico em muito se assemelha a forma de pensar do cientista de dados: trabalhar com modelos e suas limitações, matemática descritiva, análise de resultados e seus impactos no mundo real... Ambos caminham lada a lado, ainda que um pouco distintos. Uma coisa que liga bastante os dois pontos é: o mapa do caminho não é o caminho. Enquanto na física tratamos de tentar entender a natureza objetiva através de modelos e estruturações abstratas, na ciência de dados usamos de modelos preditivos para encontrar padrões nos dados oferecidos e tentar tirar decisões cada vez mais inteligentes daí. E isso tem muito em comum, dado que nenhum modelo corresponde à totalidade e é parte da função do cientista (de dados ou físico) saber das limitações do seu modelo, sua aplicabilidade e particularidades para tomar decisões mais acertadas.


Guardo alguma saudade da sala de aula, pra ser sincero. Ainda gosto daquele sentimento de ajudar os outros a ver novos caminhos, ouvir suas histórias e motivar os alunos a irem além do óbvio. Mas toda escolha é uma renúncia, e creio que guardarei os poucos (mas frutíferos) anos de professor com muito carinho no coração e na memória. Quem sabe um dia eu não volte para a sala de aula... Mas até lá, que meu caminho na computação seja tão repleto de belos momentos e aprendizagens quanto foi meu caminho como professor.

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